Códices mexicanos: imagens, escritura e debate foi a primeira exposição pública no Brasil sobre os famosos livros confeccionados pelos povos indígenas da Mesoamérica nos períodos pré-hispânico e colonial. Esses manuscritos eram muito comuns nessa região e estavam presentes em diversos tipos de situações sociais. Os tonalamatl, ou livros da conta dos dias e dos destinos, eram usados por sábios especializados para realizarem prognósticos sobre os mais diversos temas, como o destino de uma criança recém-nascida ou a sorte de um grupo que pretendia empreender uma guerra ou conquista. Os xiuhamatl, ou livros dos anos, relatavam histórias grupais desde um ponto de vista das elites dirigentes, em geral, seus principais produtores. Havia outros tipos de códices, que continham narrativas cosmológicas, registro de tributos ou ciclos astronômicos. Atualmente, os códices mesoamericanos originais se encontram em bibliotecas e arquivos de países europeus, dos Estados Unidos e, principalmente, do próprio México, onde também alguns códices pertencem a comunidades indígenas atuais e se constituem como objetos de conformação de suas identidades comunitárias. Por meio da exibição de edições fac-similares desses manuscritos, acompanhada de material explicativo e de palestras, a exposição Códices mexicanos: escrita, imagens e debates contribuiu para que estudantes, pesquisadores, professores e demais interessados conhecessem um pouco da história e da cultura dos povos ameríndios que produziram esses livros, as quais, infelizmente, são muitas vezes objetos de pouca atenção ou de fortes preconceitos por uma significativa parte da sociedade nacional brasileira. A exposição ocorreu entre 24 e 30 de Julho de 2017 no edifício Eurípedes Simões de Paula da Faculdade de Letras, Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e contou com a exposição de dez documentos mesoamericanos. Edições fac similares de muitos desses manuscritos indígenas estão disponíveis nas bibliotecas da USP, como na Biblioteca Florestan Fernandes (Códices Borgia, Cospi, Borbónico, Vaticano B, Vindobonense, Dresden, Zouche-Nuttall e Chimalpopoca) e na Biblioteca do Museu de Arqueologia e Etnologia (códices Azoyú, Borgia, Laud, Cospi, Vindobonense, Fejérváry-Mayer, Zouche-Nuttall, Egerton ou Sanchez Solís e Becker II, Xicotepec, Mendoza, Matrícula de Tributos, Dresde).
O conceito de Mesoamérica se refere a uma grande área da América indígena, cuja delimitação se fundamenta em características culturais e processos históricos que teriam sido compartilhados por inúmeras populações no período pré-hispânico e cuja vigência avançaria pelo período colonial. As características histórico-culturais mais mencionadas para definir os povos mesoamericanos são: o cultivo do milho como base de alimentação, a produção de papel e de pulque (bebida alcoólica fermentada) a partir do agave (maguey, planta da mesma família que o sisal), a utilização de práticas de autoflagelação e de sacrifícios humanos com finalidades político-cerimoniais, o cultivo do cacau, a construção de pirâmides escalonadas, a prática do jogo de pelota e a produção de armas de madeira com bordas de lâminas de pedra, principalmente obsidiana e sílex. Além dessas características, somam-se outras, mais ligadas ao campo do pensamento: a utilização de um preciso sistema de calendário baseado em dois ciclos concomitantes, a convicção da existência de vários sóis ou idades anteriores do mundo, a divisão do espaço horizontal em quatro direções e um centro e do espaço vertical em treze céus e nove inframundos, a produção de livros e a presença de três troncos linguísticos (macro-otomangue, macromaia e uto-asteca). Geograficamente os povos que compartilhavam essas características comuns habitavam, em tempos pré-hispânicos, a região que vai desde o centro de Honduras e noroeste de Costa Rica até o México, onde seus limites são os Estados de Tamaulipas (rio Soto la Marina) e Sinaloa (rio Fuerte), e de uma a outra costa marítima. Esta unidade é marcadamente perceptível desde o chamado Período Clássico (início da era cristã ao século IX) até, pelo menos, o século XVII.
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Exemplos de leitura dos códices pictoglíficos da Mesoamérica:
Leia a matéria:
“Exposição ‘Códices Mexicanos’ revela pele e alma mesoamericanas”, disponível no Jornal da USP
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